O termo ‘sociedade do cansaço’ tem se tornado popular entre filósofos e pensadores, como Leonardo Boff e Byung Chul-Han, para designar a estruturação social hodierna e sua consequência mais direta: o excesso de informações, estímulos e interações, aliados a uma alta carga de trabalho com foco na produtividade à todo custo, edificou uma civilização que tem como pilar definitivo uma maioria de cidadãos total e completamente desgastados.
Nesse contexto, é importante ressaltar que tal fenômeno não é exclusividade dos tempos atuais, mas remonta ao próprio surgimento da revolução industrial no final do séc. XVIII e início do XIX. Quiçá, o cansaço como componente de uma sociedade pode ser visto até antes: ou um servo medieval atormentado pela guerra, pela forme, pela peste e pelos altos tributos tinha uma vida menos cansativa do que a do ser humano médio ocidental do séc. XXI?

Contudo, o processo atual dessa ‘sociedade do cansaço’ adquire feições diferenciadas na era da informação digital, do envio instantâneo de mensagens e das mídias sociais. É que esse cansaço existe apesar de todo o maquinário que foi desenvolvido para torna a vida confortável. É um cansaço que não decorre de um microrganismo letal, mas simplesmente de uma “cabeça cheia”: abarrotada de um constante fluxo de informações, a energia mental gasta para processar esses estímulos torna o indivíduo quase que totalmente inapto para fazer outra coisa que não lidar com essa correnteza informacional. Esse estado, se permanece por longos períodos, pode gerar doenças como o estresse crônico ou a depressão.
Por tal razão, é necessário que, antes de tudo, essa situação seja mostrada às pessoas, para que tenham consciência do que vem ocorrendo. A conscientização é imprescindível para a sensibilização. Conscientes e sensibilizados, o próximo passo é, num nível microssocial, buscar métodos para gerir saudavelmente o fluxo informacional (gestão de tempos, limitação de horários para uso de redes sociais…), para aumentar a energia mental (nutrição adequada, prática de exercícios físicos…) e para aumentar o autocontrole mental (meditação, yoga, exercícios de respiração…).
Já no nível macrossocial, é relevante que as instituições se preocupem mais com o bem-estar de seus funcionário, respeitando toda a legislação trabalhista (sobretudo férias, horário de almoço, carga horária…), além de providenciar todo um suporte para que o funcionário possa aprender e praticar na sua vida os elementos indicados no nível microssocial.
Conclui-se, diante do exposto, que, a despeito do cansaço como componente social não ser algo novo, a sociedade do cansaço do séc. XXI tem como aspecto diferenciador uma sobrecarga informacional gerada pelas novas tecnologias da comunicação, que desgasta excessivamente a energia mental dos indivíduos. Esse problema, primeiramente, deve ser amplamente divulgado e compreendido pela população. Após, pode-se enfrentá-lo em duas frentes: microssocial, com os indivíduos melhorando sua gestão de tempo e adotando hábitos saudáveis; e macrossocial, com as instituições respeitando a legislação trabalhista protetiva e dando suporte para evolução dos métodos no âmbito microssocial.

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